Eu, a velha, o cachorro
e o rádio
Nesta montagem um homem se esforça para contar a história de uma senhora que mora em um pequeno apartamento, em Lisboa, Portugal e que vive acompanhada de um cachorro, de suas lembranças e um rádio. Um diálogo paralelo que durante sua narrativa, mistura-se, identifica-se e distancia-se da história. Mas uma notícia real parece ser o despertar da vontade do homem em contar a história e o seu desfecho.
Um experimento de narrativa não totalmente ‘teatral’ no âmbito de seu conceito cênico: personagem, cenário, tudo definido - mas de um espetáculo sem necessariamente ter essas amarras ‘teatrais’. Um estudo a partir do que chamamos ‘leitura dramatizada’. A intenção do projeto é misturar a leitura, a narrativa da história e a encenação. A motivação do conteúdo do texto com foco nesta questão do comportamento do envelhecimento, nem bonito nem feio, mas difícil de aceitá-lo, traz à luz sempre esta discussão dos parâmetros da velhice e o modo do indivíduo ver o presente.
A ligação do fado com o drama permeia o espetáculo com a presença do músico no diálogo com o texto falado nas próprias interferências cantadas levando a cabo a história, lamuriosa, contada pelo narrador.
Enfim, essa releitura da obra dramática MORADA DOS OSSOS, resultou o título do espetáculo: Eu a velha o cachorro e o rádio, para tratar da inevitável velhice a que chegamos. A crise com relação à velhice, a solidão e o convívio com o animal doméstico pontuam a narrativa cênica. Apresentamos esse espetáculo, experimentando o sentido diverso que se possa dar ao texto, justificando assim uma mediação da obra do autor e da obra do ator.
Paulo Vieira
Foto César Germano de O. Costa
B.O. - Ouve-se a notícia no Rádio
Durante nove anos o esqueleto de uma mulher e o do seu cão permaneceram no chão de um apartamento, no quarto andar, em Sintra, Portugal. A mulher que faria 96 anos em 2011, não era vista desde 2002... … Os esqueletos só foram encontrados após o apartamento ter sido leiloado e a porta arrombada para que o novo proprietário ocupasse o imóvel. Até hoje as autoridades não se mostraram disponíveis para falar sobre este bizarro caso de abandono.
Trecho do texto original MORADA DOS OSSOS
Autor: Francis Ivanovich
D. Belinda fica em silêncio, de repente pega o Rádio
BELINDA:
Não transmite! Fradique o rádio está a nos abandonar... Sinto falta daquelas vozes... O apresentador das notícias... As cartas de amor e de solidão dos ouvintes... O seu coração de pilhas está fraquinho... Coração fraco, língua presa... É uma pena, rádio é uma boa companhia…
Trecho do texto original MORADA DOS OSSOS
Autor: Francis Ivanovich
Vídeo César Germano de O. Costa
Vídeo César Germano de O. Costa
A velhice dá dimensões líricas às coisas vulgares.
Câmara Cascudo
George da Paixão e Francis Ivanovich
MÚSICA 2
Ninguém tem o direito de ser perfeito
Introdução: Dm Am / Dm Am / Dm Am / C / G / Am (2X)
Dm Am
Ninguém tem o direito
C G Am
de ser perfeito
Dm Am
O ser humano
C G Am
nasceu imperfeito
...
Texto original: MORADA DOS OSSOS
Autor: Francis Ivanovich
Livre adaptação e releitura: Paulo Vieira
Músicas: George da Paixão e Francis Ivanovich
Projeto de Iluminação: César Germano
Escultura do cachorro: Pedro Grapiúna
Idealização, execução e interpretação: Paulo Vieira
Intérprete musical: George da Paixão
Vídeo César Germano de O. Costa