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Relato afetivo sobre o Mirateatro e a Valsa nº 6
Por: Profª Maria Lúcia Galvão

A UERJ, como uma grande referência de universidade pública, proporciona aos seus docentes, discentes e técnicos o espaço para a investigação e a troca acadêmica entre campos distintos de conhecimento e de atuação. Um exemplo de rica troca ocorreu em 2012, quando recebi o convite da professora Nanci de Freitas para participar como colaboradora de seu projeto de pesquisa e extensão, o Mirateatro.

Naquele momento, o Mirateatro propunha um mergulho no universo da obra de Nelson Rodrigues, tomando como base a peça teatral Valsa nº 6. A minha participação nesse processo estava diretamente ligada às três atrizes, em encontros centrados na pesquisa com o corpo, no trabalho de investigação do movimento, auxiliando-as na construção de Sônia, personagem central da narrativa que as três interpretavam na montagem. As vivências somáticas realizadas com as integrantes do grupo, Natasha Saldanha, Raquel Oliveira e Elizeth Pinheiro, durante alguns meses, visaram ampliar a consciência corporal, explorando os sentidos, a percepção do corpo no espaço, a potência do gesto e os afetos. Foi um trabalho estimulante e desafiador, com um resultado muito gratificante.

Na época, eu atuava como Chefe da Divisão de Teatros, ligada ao Departamento Cultural, promovendo as ações artístico-culturais nos espaços cênicos da UERJ. Com isso, além de colaborar na orientação de movimento da montagem, pude promover as apresentações da peça nos espaços físicos coordenados pela Divisão de Teatros: Teatro Noel Rosa e Teatro Odylo Costa, filho. O apoio técnico das equipes dos teatros da UERJ, dedicado às montagens das pesquisas artísticas, propicia uma qualidade superior aos espetáculos e tranquilidade para os coordenadores dos projetos, durante os ensaios e as apresentações. Com essa parceria institucional, os projetos de extensão podem contar, além da estrutura física dos espaços, com apoio dos profissionais da área cênica: maquinistas, operadores de luz e som, dentre outros, que hoje já compõem o quadro de profissionais da UERJ.

O Mirateatro é um projeto singular, desenvolvido em uma universidade pública que, embora possua três potentes teatros, ainda não conta com um curso de graduação ligado às artes da cena. Mesmo assim, há muitos anos as ações deste projeto vêm construindo, na UERJ, uma área de conhecimento antes inexistente, oferecendo aos alunos de graduação e pós-graduação do Instituto de Artes a possibilidade de pesquisa nesse campo epistemológico, proporcionando-lhes aprofundar e experimentar integrações com outras áreas do universo artístico. A experiência extensionista do Mirateatro, mais do que os resultados na forma de apresentações cênicas, propicia rica articulação por meio do tripé composto por ensino, pesquisa e extensão. É por meio dele que a instituição de ensino público define e reafirma a sua função para a sociedade. Dessa forma, iniciativas como a do Mirateatro vão além dos próprios projetos em si, pois projetam, por meio de suas ações, a existência, a resistência e, principalmente, a responsabilidade pela construção de uma área de conhecimento tão importante para o desenvolvimento acadêmico, científico e cultural.

 

Maria Lúcia Galvão é professora de Dança no Departamento de Linguagens Artísticas, do Instituto de Artes da UERJ, desenvolvendo extensão e pesquisa no projeto Kinesis – Núcleo de Artes Cênicas, desde 1999. Foi Vice Diretora do Instituto de Artes, de 2004 a 2006, assumindo a direção em 2007. Foi Chefe da Divisão de Teatros da UERJ, de 2008 a 2016.

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