Relato sensível - Pele tecido
Luis Otávio Oliveira Campos
Texto escrito em 2015, quando o autor ainda era estudante do curso de Artes Visuais do Instituto de Artes da UERJ..
O corpo que luta, o corpo que salta, não do abismo, não do mundo, mas para o mundo. Na montagem de Pele Tecido, texto e espaço têm uma intensa relação com os corpos que se apresentam. A luta do corpo em se libertar do tecido é simbólica, é capaz de sintetizar a força da poesia de Ericson Pires, uma poesia que tensiona as amarras. O jogo do poeta, nesse caso, é viver. Existir e se afetar pela vida, na mesma intensidade. Em determinado momento, uma canção de liberdade ecoa: “É um novo amanhecer, é um novo dia, é uma nova vida para mim. E eu me sinto bem”. Sentir é essencial, nesse caso. A proposta da encenação é mexer com todos os sentidos possíveis e, para tal, lança-se mão de uma gama de ferramentas tecnológicas: vídeos que compõem o grande texto, que trabalham junto ao corpo; cenário e iluminação que acompanham as variações e conflitos das experiências propostas. Quando libertos do tecido, os corpos se experimentam uns nos outros, no espaço, com bastante intensidade. O tipo de proposição e a fluidez do texto dão a impressão de que toda a cena é uma grande performance, no sentido de que os corpos parecem estar experimentando sem regras. Mesmo nos momentos em que o texto é falado ou há inserção de música, não se sente uma marcação do tempo na cena tão fortemente. Penso que Pele Tecido apresenta uma investigação das possibilidades cênicas, ao explorar não só um texto já escrito e escolhido, mas reescrevê-lo a partir das performances que vão acontecendo ao desenvolvê-lo. Possibilitando, assim, uma construção performática, na qual os corpos externam suas memórias, seus desejos e as relações com os elementos em cena, com as ideias criadas e recriadas a cada momento.