Vivendo os bastidores do teatro. Evoé!
Entrei no projeto Mirateatro em 2012, como bolsista da área de produção, no período em que o espetáculo Valsa nº 6 estava sendo apresentado em vários locais. Logo fui apresentada aos bastidores do teatro: acompanhamento de ensaios, organização de acervos e de figurinos, filmagem de eventos, criação de cartazes. Como a proposta do Mirateatro era ser um grupo colaborativo, eu participava também dos estudos de textos, personagens, concepções artísticas e produção das apresentações cênicas. Com a temporada da Valsa nº 6 encerrada, passamos por um período extremamente importante do Mira, de arrumação da casa: fomos contemplados com um edital da FAPERJ com recursos para a criação de um laboratório cênico e aquisição de equipamentos. Nesta fase, eu colaborei com a parte administrativa, organizando planilhas de compras e orçamentos de materiais.
Enquanto isso, os atores - que também contribuíam com os trâmites da FAPERJ - absorviam outros roteiros, estudavam panoramas sobre teatro contemporâneo e realizavam exercícios físicos e vocais, dando corpo a essa que seria a nova fase do Mirateatro! Eis que Nanci de Freitas, coordenadora do projeto, chegou com um novo desafio: a encenação de O Marinheiro, de Fernando Pessoa, uma peça simbolista com uma reflexão filosófica sobre a vida. No processo de estudos e de montagem do espetáculo, passamos por várias fases: leitura em conjunto do texto, reflexões sobre os conteúdos abordados, pesquisas sobre ocultismo e tantos significados que essa obra carrega. Em paralelo, cada um dos integrantes estava se dedicando também ao curso de Artes Visuais, tendo oportunidade de decidir qual seria a linguagem artística e midiática que absorveria como sua contribuição para este novo processo de encenação. Não foi difícil para mim: escolho trabalhar com a fotografia.
Em todo esse processo de desbravamento de O Marinheiro, entendemos melhor as características de cada uma das personagens. Decidimos, então, fazer uma filmagem de vídeos que seriam exibidos durante o espetáculo, com referências às memórias das três mulheres da peça. Fui escolhida para fazer as filmagens das cenas e o desafio era traduzir as imagens de O Marinheiro para o formato audiovisual, uma espécie de encenação expandida. Escolhemos o Parque Lage, no Bairro Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, para ser o cenário dos vídeos, por ter paisagens que tinham relação com as três personagens: os montes, o campo e a água. Seu clima bucólico e cativante dava asas à imaginação. De forma bastante intuitiva e espontânea, caminhamos pelo Parque Lage e, a cada flor, ruína ou lago encontrado, nós nos lembrávamos de alguma parte do roteiro e das personagens. Fazíamos filmagens abstratas, conceituais: filmamos o que pensávamos que poderia refletir as memórias delas e que, de um ponto de vista mais técnico, ficaria bom na encenação. Em seguida, fomos para a praia do Arpoador, também na zona sul do Rio de Janeiro, para filmar as cenas no mar. Entramos de corpo e alma – literalmente - na água, e produzimos algumas das cenas mais lindas dos vídeos.
Mais tarde, essas filmagens foram utilizadas na edição do filme O que queremos ser queremos sempre ter sido no passado, com roteiro e direção de Nanci de Freitas e Pedro Henrique Borges. Ter as imagens que eu capturei usadas no filme foi para mim uma grande honra.
Logo depois dessa experiência, eu precisei me afastar do projeto e da produção do espetáculo por motivos profissionais. Foi com muita alegria que assisti a O Marinheiro, no Laboratório de Artes Cênicas da UERJ, e depois no Teatro Glauce Rocha, na Av. Rio Branco.
Participar do Mirateatro foi uma experiência de grande mudança na minha vida. Foi lá que descobri minha inclinação para os bastidores e para a produção. Sou eternamente grata a essa oportunidade. Viva o Mirateatro! Evoé!
Sara Paulo é graduada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UERJ (2014). Foi Bolsista de Extensão do Mirateatro, atuando como Assistente de Produção em 2012 e 2013. Atualmente, trabalha na área de Comunicação e Marketing Digital.