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Anima Monstro

Corpo, alteridade e performance na contemporaneidade

Dissertação de Mestrado de Thiago José Bastos de Siqueira
Orientação: Profa. Nanci de Freitas

PPGArtes - Programa de Pós-Graduação em Artes
Instituto de Artes da UERJ 

Anima Monstro é uma pesquisa que investiga os limites e contaminações entre a performance e o teatro contemporâneo, explorando os conceitos de teatralidade e performatividade desenvolvidos por Josette Féral. Fruto de uma necessidade pessoal de reclamar certa autonomia de meu próprio desenvolvimento artístico enquanto figurinista, o projeto se debruça sobre as camadas simbólicas imateriais da indumentária, revelando
diferentes formas de entender o que é o vestir e como elas afetam o corpo, por meio da ação poética. Anima Monstro conjuga simultaneamente teoria e prática, relatando a experiência de criação, produção e apresentação de duas performances artísticas, cujas características limítrofes se apoiam sobre os hibridismos de linguagens da cena contemporânea. Como inspiração temática paras as performances foram utilizados os
personagens marginalizados conhecidos como monstros. As silhuetas de Minotauro e Frankenstein são reformuladas em performances homônimas, que propõem atualizações e reflexões sobre arquétipos e outras questões que se impõem ao corpo, no contexto contemporâneo, regido pela biopolítica.

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Minotauro 1933 

Man Ray (Emmanuel Radnitzky)
© 2021 Man Ray Trust / Artists Rights Society (ARS), Nova York / ADAGP, Paris

A obra Minotaure de Man Ray foi o ponto de partida para a criação de minha performance Minotauro. A enigmática e instigante fotografia de um torso feminino simulando a cabeça de um touro me remete diretamente ao objeto de desejo sexual, domínio da besta existente em cada um de nós. Nesse caso um desejo anônimo, representado por um torso decapitado. Não importa quem é essa mulher, apenas seu corpo e o impulso que ele desperta, na vontade de devorá-la.
Eu reconheço essa forma de representação do corpo, ela é facilmente encontrada no cotidiano contemporâneo, em perfis de aplicativos de encontros e redes sociais, destinados ao público homossexual. Estes perfis apresentam poucas e pontuais informações sobre seus donos, mas raramente deixam de conter uma fotografia, na maioria das vezes, um torso masculino desnudo e sem rosto. Os aplicativos tem a

interface de menus digitais, lembrando displays de lojas de fast food, onde se escolhe o que consumir pela foto.

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Foto: George Magaraia

MINOTAURO

Registro da performance realizada na defesa de Mestrado

Vídeo:  César Germano de O. Costa

MINOTAURO - Vídeo 0’58’’

Registro da performance realizada na defesa de Mestrado

Criador e performer: TJ Bastos
Supervisão de criação: Nanci de Freitas

Figurino: TJ Bastos

Ambientação sonora: Dunkirk - Supermarine - Hans Zimmer
Iluminação: César Germano de O. Costa
Colaboração em adereços: Elisa Brasil

Minotauro –

margem, silhueta e sombra

A performance é estruturada entre linguagens. Um enquadramento é delimitado, iluminação é preparada, projetor ligado. Há um personagem, mas não há interpretação, apenas ação que se desenrola como ginástica. Uma performance que denuncia as
tensões produzidas pela manutenção da hegemonia do belo, uma operação política secular excludente que serviu de base para a padronização de corpos-mídias na sociedade de consumo. Esses corpos virtuais, inatingíveis, desprovidos de poros e sem

marcas da ação do tempo, dominam o imaginário de uma massa de cidadãos e alimentam o descontentamento com seus corpos reais, facilitando o surgimento de compulsões de diversas ordens.

Peitorais estufados e abdomens definidos dizem respeito ao padrão físico celebrado e perseguido por grande parte da comunidade gay. Ainda nos dias de hoje, a imagem mais desejada é a que performa certa virilidade, traduzida por meio de um corpo atlético, esculpido para dar e receber prazer, como uma fórmula para a satisfação sexual.
A performance Minotauro problematiza minha própria relação com meu corpo e com a projeção do desejo. Utilizo imagens que contribuem para a manutenção de meu
comportamento como autocrítica, a fim de desconstruir uma noção de corpo objetificado, por meio da ação poética. Para tanto, meu corpo despido executa um vestir metafórico de
formas e imagens, sobrepondo camadas simbólicas no decorrer da experiência performática.

George Magaraia e Bruno Jannechevitz

Vídeo a partir do registro da performance MINOTAURO
Performer: TJ Bastos
Ideia original vídeo: César Germano de O. Costa
Edição do vídeo: Júlia Esquerdo
Ano da realização do vídeo: 2020

Vídeo: César Germano de O. Costa
Edição: Julia Esquerdo

FRANKENSTEIN - Vídeo 1’10’’
Registro da performance realizada na defesa de Mestrado.
Criador e performer: TJ Bastos
Supervisão de criação: Nanci de Freitas
Figurino: TJ Bastos
Ambientação sonora: poema "frank" por TJ Bastos
Iluminação: César Germano de O. Costa
Colaboração em adereços: Elisa Brasil

A performance Frankenstein

A performance Frankenstein é um esforço para problematizar a ideia de organismo, corpo dócil e acabado dos nossos dias. É um exercício de adição de camadas materiais sobrepostas ao meu corpo performer através de livres associações entre as partes, formando uma casca, revelando uma figura monstruosa inédita. Um corpo pós-orgânico
que estabelece uma relação de prolongamento com objetos do cotidiano (talheres, roupa, óculos, gadgets etc). Através da subversão da lógica que incorpora esses objetos como anexos ao organismo, desejo promover uma descontinuação física e psicológica, abrindo a percepção para outro entendimento deles, a de parasitas da biopotência.

A performance Frankenstein investiga a naturalização de objetos como extensão de nosso próprio corpo, nos fazendo dependentes de seu funcionamento, admitindo que eles nos controlem cotidianamente e nos definam na esfera simbólica. Esta operação é
um reflexo do que Peter Pál Pelbart descreve como a tomada de assalto da vida pelo poder, no contexto contemporâneo regido pela biopolítica, conforme o termo utilizado por Foucault (1978). As práticas disciplinares utilizadas até o século XIX visavam governar o indivíduo, mas a biopolítica tem como alvo o conjunto dos indivíduos, a população, numa
prática de biopoderes locais. Um poder entranhado de forma molecular, que atua por meio
de mecanismos anônimos e flexíveis, sendo assim consoantes com a pós-modernidade.

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Foto: César Germano de O. Costa

Registro da performance FRANKENSTEIN

Vídeo:  César Germano de O. Costa
Edição: Julia Esquerdo

O monstro, tal como a obra de arte, inaugura uma forma única que carrega em si características de um pensamento heterogêneo repleto de possibilidades, ao mesmo
tempo em que evoca algo de universal, em relação a nossa natureza animalesca. Sua dualidade intrínseca é fruto direto das questões socioculturais especificas de uma época.
Estas questões (medos, angústias, ambições...) parecem subsistir através do tempo, fazendo com que monstros míticos, apropriados dos saberes sagrados de antigas
civilizações, sobrevivam na contemporaneidade por meio de atualizações midiáticas (em filmes, livros, jogos, etc) e conceituais, convivendo com novos produtos do nosso tempo.

Vídeo 1’15’’ - registro da performance FRANKENSTEIN

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